Roma Berlim Tokyo: fevereiro 2015

Cenas de um apartamento

Aquele dia tinha sido exaustivo. Ao termino de um trabalho de carregamento marítimo tudo é exaustivo. No ultimo dia de um carregamento, os dias trabalhados devem ser reduzidos e condensados em algumas horas. Todo trabalho efetuado durante os dias de carregamento devem tornar-se um documento, um relatório. Um documento a ser analisado e assinado pelas partes que participaram do carregamento. Qualidades e quantidades são apontadas em um documento que deve satisfazer, responder e corresponder a todas as partes envolvidas. Vendedor e comprador; exportador e importador e o principalmente o componente ali presente: o transportador marítimo, aquele que assume uma mercadoria com responsabilidade de entregar a outro, tal como a recebeu.

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Um aviso fisiológico já havia chegado durante a estadia do navio. Certo dia pela manhã depois de um breakfast à bordo, uma chegada à murada do navio para observar o porto e um novo dia de trabalho, onde os estivadores já começam a se movimentar. Antes de chegar à murada do navio, um ajeitar da roupa, um ajustar o cinto e as caças junto à cintura. E um revistar de bolsos para ver se tudo ainda permanecia no mesmo lugar: canetas e blocos de anotações, câmera fotográfica e telefone celular; carteira, documentos, cigarros e isqueiro, ninguém é capaz de virar noites acordadas sem um cigarro. Ao investigar um dos bolsos traseiros da calça, curiosamente a mão não encontra o bolso, uma nova tentativa e nada.

Uma estranha ação é efetuada, a ação estranha para ter uma certeza injustificada. Um olhar para ver se a mão existe, e ela existe. Uma tentativa de ver se ela ainda esta no mesmo lugar. E uma nova tentativa é feita, a mão não encontra e não entra no bolso determinado, parece que o bolso e a mão não existem. No entanto a mão e o bolso existem, fatos comprovados depois de algumas observações e tentativas.

Há algo de errado, é melhor procurar uma assistência médica. Primeira providencia: ligar para casa. Segunda providencia: buscar um atendimento médico. Investiga aqui e ali e consegue-se uma ambulância para ser conduzido a um pronto socorro. Ao chegar a frente ao médico, o sintoma não existe mais. Foi uma paralisia transitória disse ele. Tal como disse sua esposa, quando foi informada pelo telefone celular, sobre o fato, antes de procurar uma assistência medica no porto. Sua esposa era enfermeira, e dava aulas na universidade. Com sua longa data de conhecimento e experiências na área de enfermagem, lhe conferiam um conhecimento médico. Chegava a fazer diagnósticos por telefone.

E este mesmo dia, de uma paralisia transitória, havia outro fato transitório. Era um dia de mudança de residência e ele não podia participar da carga e descarga da mudança, estava ocupado com um carregamento de navio. Sua esposa e sua enteada ficariam incumbidas da mudança. Naquele dia aconteciam cargas e descargas em diferentes lugares, e em diferentes proporções.

Enquanto à bordo em de um navio tudo que era embarcado era controlado, em casa não devia estar acontecendo o mesmo. Nada do que entrava no caminhão era controlado para que fosse conferido na descarga. Os que despacharam as mercadorias, não informaram aqueles que receberiam. Ainda que ambas as partes conhecessem tudo que seria transportado. E assim aconteceu na semana anterior.

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Passada uma semana, e então o carregamento do navio terminara. Um pequeno espaço de tempo era suficiente para assinatura de documentos. Um resumo de tudo que havia acontecido durante o embarque. Documentos já assinados, a tarefa estava completa, era possível voltar para casa.

Casa ainda desordenada, eram os pontos evidenciados na casa recém-montada. Com o tempo as coisas poderiam se ajeitar. Já havia sido identificada a falta de alguns itens que poderiam ainda estar por chegar. Navio terminado, o importante agora era descansar.

Ao levantar durante a noite, um disfarçado escorregar. Uma “falta de chão”, talvez a estafa tenha feito a perna adormecer. Naquele dia sua esposa sairia cedo para o trabalho, nem percebera seu tombo durante a noite.

Pela manha logo ao acordar levantar. Sua esposa já havia saído para o trabalho e um novo tombo acontece. Volta para cama e uma nova tentativa de levantar, outro tombo. Com um telefonema, novamente sua esposa fez um diagnóstico, por sua filha foi informada. E a providencia que ela tomou foi ir imediatamente para casa.

Tombos anatômicos podem ter causas e justificativas fisiológicas, como podem ter significados ocultos e até psicológicos. Os tombos anatômicos trouxeram a tona alguns significados simbólicos. Como o significado mais simples de procurar o chão para colocar e apoiar os pés e não encontrar. Como a necessidade de ficar ausente e encontrar outro ambiente ao voltar.

RN, 01/02/15